Ninguém aguenta mais fake, né? Se você chegou aqui é porque está cansado de ver tanto conteúdo enganoso e seus efeitos desastrosos por aí. Pois bem… agora você tem um material que vai dar o que você precisa pra se livrar dessa dor de cabeça. O Fake Dói é um verdadeiro manual sobre o fenômeno da desinformação, com conteúdo que explica conceitos associados a esse universo e, melhor, ensina técnicas de investigação para que você mesmo possa desmascarar as fakes que assolam a internet.
Vamos começar os trabalhos! Primeiro de tudo, é importante saber que para combater a desinformação com eficiência não existe fórmula mágica. Nenhuma ferramenta vai dar a resposta sozinha pra você: sempre é preciso ter proatividade e análise própria para verificar se algo procede ou é fake. Só tem um caminho, que sempre vai exigir um papel ativo de todo mundo: prática, prática, e mais prática!
Neste capítulo, a gente oferece os conhecimentos conceituais sobre o fenômeno da desinformação. O que é, onde vive, o que come? Aqui a gente conta tudo. Você vai descobrir os diferentes tipos de desinformação, a diferença entre o termo "fake news" e o termo desinformação, os elementos psicológicos desse fenômeno e muito mais. Vamos? Vamos!
A desinformação não é baseada no achismo de alguns poucos especialistas. É um fenômeno que tem entende bem o desafio que está enfrentando tem muito mais chances de se sair bem! Então, se estamos combatendo a desinformação, precisamos, afinal de contas, entender o que é a desinformação. Vamos lá?
Como já dá pra presumir, a ideia inicial do fake é simples mesmo: algo falso. Só que a desinformação vai muito além disso: qualquer conteúdo que tenha o potencial ou mesmo a intenção de levar a uma compreensão distorcida da realidade pode ser considerado parte do fenômeno da desinformação. E, para isso, não é preciso que o conteúdo seja 100% fake.
Uma forma de entender melhor o fenômeno da desinformação é entender suas duas esferas de intenção:
1. Informação incorreta (em inglês, misinformation). Define conteúdos falsos, mas compartilhados sem a intenção de causar qualquer tipo de dano. Motivada muitas vezes por fatores sociopsicológicos.
2. Má-informação (em inglês, malinformation). Define conteúdos compartilhados com a intenção de causar dano. E não é só sobre desinformação que estamos falando. Doxxing, vazamento de imagens íntimas e táticas de hacking podem ser classificados como malinformation por sua intenção de causar danos.
O fenômeno da desinformação (em inglês, disinformation) é a união dessas duas esferas de intenção. Há sempre um grupo que cria conteúdo falso com a intenção de obter alguma vantagem antiética ou ilícita e outros grupos que compartilham aquele conteúdo sem saber que estão participando da rede desinformativa.
Seja intencionalmente ou não, a desinformação é um problema que nos afasta da compreensão dos fatos. Geralmente, existe um apelo emocional envolvido: sabe aquela mensagem no zap com um senso de urgência, com fontes desconhecidas ou inexistentes e mandando compartilhar com o máximo de pessoas possível o quanto antes? Além disso, também é muito comum que a desinformação dificulte nosso acesso a conteúdo confiável. Um exemplo muito claro disso aconteceu na pandemia: eram tantos conteúdos enganosos circulando que achar informações e fontes confiáveis virava uma missão difícil por si só.
Por tudo isso a gente criou o Fake Dói. Aqui, a gente fala tanto sobre conceitos associados ao universo da desinformação quanto ensinamos técnicas de investigação. Bora então mergulhar mais a fundo nesse tema.
Quando ouvimos falar em desinformação pensamos logo naquele conteúdo claramente falso. Mas calma lá. Se a desinformação fosse um sorvete existiriam vááários sabores diferentes. Aqui, vamos falar sobre os principais tipos de desinformação para te ajudar a identificar e falar sobre esse fenômeno.
1. Conteúdo fabricado:
Conteúdo novinho em folha, totalmente falso. Criado para enganar.
Exemplos:
- Deep fakes, criados com uso de inteligência artificial;
- Imagens criadas com uso de softwares de edição, como Illustrator ou Photoshop;
- Imagens criadas por modelos de inteligência artificial generativa, como o MidJourney.
Claro que nem todo conteúdo fabricado é desinformação, mas é possível utilizar técnicas de criação de mídias para manipular.
2. Conteúdo manipulado:
Conteúdo no qual a imagem ou vídeo original é alterado para enganar.
Exemplos:
- Adicionar uma pessoa em uma imagem utilizando técnicas de edição de foto;
- Adicionar explosões em imagens;
- Adicionar uma voz ou alterar a tonalidade de uma voz em um vídeo.
Quando você utiliza filtros no TikTok ou no Instagram, você está manipulando aquele conteúdo. O problema é quando esse tipo de manipulação é feita para manipular o debate público e a esfera política. O pior: está cada vez mais difícil identificar esse tipo de manipulação.
3. Conteúdo impostor:
Conteúdo que utiliza fontes genuínas e reconhecidas, como o G1 ou a Folha de SP, para dar credibilidade a conteúdos falsos. É a prática de usar sem autorização o logotipo de marcas prestigiadas, identidade visual de instituições renomadas ou o nomes de repórteres com boa reputação para falsificar a autoria de um conteúdo
Exemplo:
- Pouco antes das eleições gerais de 2017 no Reino Unido, circulou imagem, com a logo do canal de jornalismo BBC, informando que a eleição teria duração de dois dias e que haveria uma data certa para votar, a depender da filiação partidária do eleitor. O conteúdo era falso.
4. Contexto falso:
Conteúdo que tem seu contexto alterado. A informação contextual afeta profundamente o modo como cada conteúdo é lido por nós. Mesmo quando utilizamos imagens ou vídeos reais, é possível enganar ao modificar o contexto no qual aquela mídia foi registrada.
Exemplo:
- Fotos de uma encenação de filme ou série sendo divulgada como acontecimento não-fictício, acompanhada de uma mensagem problematizadora ou política.
5. Conteúdo enganoso:
Conteúdo enquadrado de modo a induzir o público a conclusões não baseadas em fatos. O dado é verídico, mas sua utilização é enviesada.
Exemplo:
- Brasileiros são o povo que mais toma banho no mundo. Esse dado é verídico. Mas a partir dele poderíamos afirmar que isso acontece porque o brasileiro tem um odor mais forte que outros povos, o que, obviamente, não é baseado em fato algum.
6. Falsa conexão:
Sabe quando você lê uma manchete, mas ela não reproduz exatamente o que é tratado na notícia? Isso é falsa conexão! Isso também serve para imagens, legendas e outros tipos de títulos que não correspondem com o que é falado no restante do conteúdo. São sensacionalismos que podem levar à desinformação.
Exemplo:
Título de matéria que afirma que Jacaré foi encontrado abandonado em uma estrada no Rio de Janeiro, com a foto do músico conhecido por Jacaré. Quando se abre a matéria o leitor descobre que se tratava do animal jacaré, ao invés do cantor.
7. Sátira ou paródia:
O humor mal interpretado ou utilizado para assegurar maior liberdade de expressão para desinformar.
Exemplo:
- Na época da pandemia, vídeos associando a marca de cerveja Corona ao vírus da covid-19 fizeram sucesso. Nos vídeos, pessoas jogavam a cerveja fora para não “contrair” o vírus. Era uma piada, claro. Mas algumas pessoas foram enganadas por isso.
Pronto, agora você já sabe que o fenômeno da desinformação é amplo, cheio de facetas. Continue explorando esse universo no Fake Dói.
Tá achando que o fake é bobinho? Vai fundo que é raso, o fake estuda até você!
O fenômeno da desinformação está intimamente ligado à dimensão psicológica das pessoas. É isso mesmo: as fakes tentam mexer com a sua cabeça pra terem sucesso. Se a gente não quiser ser alvo fácil, a gente precisa estudar elas também.
Como ponto de partida, um fato importante a saber sobre a desinformação: fake news se propagam muito melhor do que informações legítimas. Um estudo publicado na renomada revista Science revelou que fakes têm até 70% mais chances de compartilhamento nas mídias sociais, em comparação a notícias de veículos tradicionais.¹ Neste estudo, descobriram que as histórias falsas apelavam a sentimentos como o medo, nojo e surpresa (leia-se choque), enquanto notícias baseadas em fatos despertavam outras emoções, como expectativa, tristeza, alegria e confiança.
Dois vieses em particular são importantes para entender o funcionamento das fakes: o viés de confirmação e o viés de grupo Nunca ouviu falar desses conceitos? Calma, que a ideia é simples e até a wikipédia explica de um jeito fácil: um viés cognitivo, ou tendência cognitiva, é “um padrão de distorção de julgamento que ocorre em situações particulares, levando à distorção perceptiva, ao julgamento pouco acurado, à interpretação ilógica, ou ao que é amplamente chamado de irracionalidade.”
Dito de outra forma, o viés cognitivo é um “deslize” mental, um erro de leitura que distorce a nossa interpretação. Um ponto importante adicional: o viés é uma condição natural do humano, todos estamos suscetíveis a ele.
1. Viés de confirmação
Esse viés nada mais é do que a nossa tendência de prestar atenção, lembrar ou buscar mais sobre interesses, crenças e opiniões que nós já temos. É ter um ouvido seletivo, sabe? Vamos a um exemplo: imagine uma mesa em que você está conversando com outras duas pessoas sobre vida extraterrestre. Uma delas argumenta que existe vida fora da Terra e a outra que não. Você, que jura que já viu um OVNI quando era criança, tem uma tendência cognitiva a aceitar mais facilmente os argumentos da pessoa que também defende a existência de ETs, mesmo que a pessoa cética apresente dados e argumentos cientificamente fundamentados.
Sem que você perceba, a questão lógica sobre como cada um está argumentando fica em segundo plano. Uma dessas narrativas mexe mais com seu coração e aí já pouco importa se ela articulou as falas de um jeito questionável ou com uns absurdos no meio.
2. Viés de grupo
Esse viés representa a nossa tendência de nos aproximarmos de pessoas semelhantes a nós, também conhecido como “homofilia”. Quando falamos em bolhas nas mídias sociais, muitas vezes imediatamente responsabilizamos os algoritmos por isso. Mas a bem da verdade é que nós também temos a nossa parcela de responsabilidade. Temos uma tendência natural a ficarmos próximos de pessoas de contextos semelhantes aos nossos, seja em suas opiniões políticas, gostos culturais e até estilo. Tipo aquele grupinho que curte anime e vive grudado, sabe? Isso significa que ficamos presos em bolhas de informação de pessoas semelhantes a nós mesmos, nas mídias sociais e fora delas.
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Pra gente não se alongar por aqui, a ideia central é reconhecer que a desinformação possui mecanismos sofisticados que exploram nossas tendências mentais e vieses cognitivos para disseminar informações falsas e minimizar a verdade.. Os vieses cognitivos são uma realidade da mente humana e não é possível simplesmente eliminar essas tendências internas, que são naturais e muitas (sério, dá uma olhada nessa lista de vieses cognitivos só pra ter ideia). Porém - e esse é o lado bom da história - nós podemos reconhecer que essas limitações existem para frear o impulso do deslize quando percebemos que estamos cometendo um, ou quando notamos que um conteúdo tem esse tipo de apelo. Em suma: a gente precisa ser fiscal do mundo e se autofiscalizar também, sempre!
Quer saber como ter essa análise crítica cada vez melhor? Continue explorando o projeto Fake Dói, que a gente te mostra um monte de habilidades e ferramentas para virar o jogo contra as fakes! (Quem é o bobinho agora, hein…)
As fakes não vão desaparecer da internet de uma hora para outra. Precisamos seguir vigilantes, com atenção redobrada. Abaixo vamos compartilhar algumas dicas básicas para você checar informações de maneira prática. Essas são dicas gerais, que podem ser utilizadas em vários contextos diferentes, ein. Se liga:
1. Atente-se à origem e autoria do conteúdo
Antes de compartilhar uma notícia que você recebeu, confira de onde ela veio. Observe se o veículo de comunicação ou autor é conhecido ou parece confiável.
2. Pesquise por imagens no Google
Se você receber uma imagem estranha é possível fazer uma pesquisa reversa no Google Imagens. Basta baixar a imagem no seu computador ou celular > clicar aqui > clicar no ícone de câmera que tem ao lado da caixa de pesquisa > fazer upload da imagem que você quer buscar. Pronto! Ali você terá acesso ao histórico de uso dessa imagem na Internet. Dá para saber quando ela foi publicada pela primeira e em quais outros lugares da internet ela apareceu.
3. Verifique informações suspeitas
É super importante você conferir se o que tá sendo falado ali no aplicativo, na mídia social ou no website é fato mesmo Como? Pega aquele trecho e joga no seu buscador favorito. Veja como outros websites e autores estão abordando aquele mesmo fato.
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É bem óbvio que o fenômeno da desinformação tem crescido por conta da facilidade de produção e disseminação de informações possibilitada com a Internet. Mas, em contrapartida, a tecnologia tem criado ótimas formas de se esquivar e não cair nas mentiras que rolam por aí.
Uma das principais soluções contra essa prática são as agências de checagem de fatos. O principal objetivo dessas agências é trazer mais transparência e apuração para o conteúdo informativo que circula online. Aqui vamos trazer os principais checadores de fatos que existem hoje:
2. Fato ou Fake
3. Aos Fatos
4. Agência Lupa
7. UOL Confere
Checar informações nunca foi tão fácil. As agências de checagem devem ser grandes aliadas nessa saga de desinformação.